Ao fazer um investimento é importante ter ciência dos custos envolvidos nas transações. No caso de fundos de investimentos, vamos falar sobre Taxa de Administração e Taxa de Performance.
Neste artigo, você vai entender o que são estas taxas e como elas podem impactar na sua rentabilidade. Veja o que você vai encontrar:
- O que é a Taxa de Administração de Fundos de Investimento?
- Como é calculada a Taxa de Administração?
- Quais são os valores de Taxas de Administração mais usuais?
- Quem define a Taxa de Administração? Ela pode ser alterada?
- O que é Taxa de Administração Mínima, Máxima e Efetiva?
- O que é a Taxa de Performance de Fundos de Investimentos?
- Como funciona a cobrança da Taxa de Performance?
- Peculiaridades da Taxa de Performance
- Como este conhecimento pode me ajudar na escolha fundos?
Para se aprofundar ainda mais no tema e facilitar suas escolhas ao investir em fundos, leia também o post completo que fizemos detalhando os tipos de fundo de investimento que existem.
O que é a Taxa De Administração de Fundos de Investimento?
O valor da Taxa de Administração pode ser encontrado dentro da lâmina ou do regulamento dos fundos de investimento, em cumprimento com a instrução da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Portanto, fica o alerta, se você não encontrar esta informação facilmente, suspeite que pode haver algo errado.
O objetivo desta cobrança é garantir que o administrador possa custear ou contratar serviços de terceiros para manutenção do fundo. Cabe ressaltar que tanto os administradores quanto os prestadores dos serviços devem ser autorizados a funcionar pelo regulador, seja o Banco Central do Brasil ou CVM. Como exemplo de serviços podemos listar:
- Gestão de carteiras: pessoa jurídica ou física autorizada pela CVM para realização dos investimentos do fundo
- Atividades de tesouraria, controle e processamento de ativos: responsáveis pelos controles operacionais do fundo.
- Distribuição de cotas: serviços de divulgação e venda do fundo para investidores.
- Escrituração das cotas: emissão de novas cotas e resgate.
- Custódia de ativos financeiros: serviço de guarda dos ativos de propriedade do fundo.
- Auditor externo: garantir que as atividades estabelecidas no regulamento do fundo estão em concordância com as de fato realizadas pelo fundo.
Como é calculada a Taxa de Administração?
A Taxa De Administração é apresentada na forma de percentual anual e calculada sobre o patrimônio do fundo, por exemplo, 2% ao ano.
É apurada diariamente sobre o valor do patrimônio do fundo do dia anterior e, de fato, paga mensalmente ao administrador.
Vamos exemplificar?
Considere que o Fundo A tem um patrimônio de 100 milhões de reais e que a taxa de administração seja de 1% ao ano. Considere ainda que o período de 01 ano contém 252 dias úteis.
Amanhã, ou o dia 01, a taxa de administração apurada para pagamento será:
Conforme a tabela abaixo, você pode notar que qualquer evento que altere o valor patrimonial do fundo altera a taxa de administração que será apurada. Neste hall de eventos podemos incluir captações, resgates ou a própria valorização e desvalorização do fundo.
Ao final do ano, a taxa de administração paga foi de exatamente 1% da média do valor patrimonial durante todos os dias do ano.
Cabe ressaltar que o valor apurado diariamente é devidamente pago todo mês ao administrador para que o mesmo possa honrar os compromissos do fundo com seus fornecedores.
Construímos uma tabela exemplificando o caso do Fundo A para por 01 ano, ou 252 dias. Repare que o fundo pagou no período o montante de R$ 1.181.064,00, referente a rubrica de Taxa de Administração.
Vamos olhar agora a performance do fundo e como a taxa de administração afeta a o retorno do investidor.
A linha azul (Cota Real) é a performance do fundo considerando a cobrança da taxa de administração. Já a linha vermelha (Cota S/ Adm) é a performance caso não houvesse a cobrança. Como era de se esperar, a medida que o tempo vai passando, a linha azul descola para baixo da linha vermelha, evidenciando o custo de administração na performance da cota.
Para o período considerado, o investidor teria obtido um rendimento de 16,40% sem a cobrança da taxa, já com a cobrança teve um rendimento de 15,24%. Repare que a taxa de administração é de 1%, porém a diferença de rendimento foi de 1,16% (16,40% – 15,24%). Isso acontece pois a taxa de administração é apurada diariamente sobre o valor patrimonial do fundo do dia anterior. Como o valor patrimonial foi variando ao longo do período, ou seja, o investidor foi ganhando retorno e a cota crescendo, a taxa de administração acaba incidindo sobre cotas maiores do que a cota inicial e ficando mais cara que os 1% sobre o valor investido. Caso o Fundo A estivesse dando prejuízo, ou seja, sua cota caindo, o efeito seria o oposto.
Quais são os valores de taxas de administração mais usuais?
A taxa de administração pode variar significativamente de fundo para fundo. Os principais motivos estão relacionados à estratégia a ser implementada. Fundos que demandam estratégias mais sofisticadas, buscando maiores rendimentos, demandam estruturas maiores e mais custosas para tal, desta forma, acabam apresentando taxas de administração mais salgadas (entre 1% a 2% ao ano). Estes fundos em sua maioria são chamados de Fundos Ativos, pois atuam constantemente no mercado, buscando oportunidades de rentabilidade que ultrapassem os rendimentos do índice benchmark. Fundos Ativos são comumente fundos de ações, multimercados ou crédito privado.
Taxas de administração menores são encontradas em Fundos Passivos. Estes fundos têm estrutura de custos menores e buscam perseguir os rendimentos do índice benchmark, sem variações. Por serem menos custosos, oferecem taxas de administração menores, abaixo de 1% ao ano. Podemos encontrar fundos passivos em classes de fundos renda fixa e ações.
Quem define a taxa de administração? Ela pode ser alterada?
A taxa de administração é definida pelo administrador na concepção do fundo. Conforme instrução da CVM, para que a taxa de administração de um fundo seja alterada após sua concepção, é necessária a convocação de uma assembleia geral de cotistas, uma espécie de reunião de condomínio.
Nesta assembleia, pode ser definido o aumento ou redução do valor da taxa de administração.
A boa noticia é que para reduzir a taxa, o administrador pode unilateralmente atuar, sem a necessidade da convocação de assembleia. Provavelmente nenhum cotista vai reclamar disso, certo?
O que é Taxa de Administração Mínima, Máxima e Efetiva?
Cabe notar que alguns fundos apresentam taxas de administração mínima, máxima e efetiva. Estas diferenciações são relevantes e pertinentes para fundos que investem em cotas de outros fundos da mesma gestora. Isto foi desenhado para evitar um possível conflito de interesse do gestor.
Imagine que uma gestora tenha 02 fundos disponíveis :
- Fundo A com taxa de administração de 0,5%
- Fundo B com taxa de administração de 5%.
Ela poderia aplicar a seguinte malandragem: Captar no Fundo A “marketeando” esta taxa baixinha de administração e aplicar estes recursos no Fundo B, perfazendo um custo total para o investidor de 5,5% (0,5% de forma direta + 5% de forma indireta).
Para resolver este problema o regulador instituiu a utilização das taxas de administração mínima, máxima e efetiva.
A taxa de administração mínima será a taxa cobrada pelo fundo principal, ou seja, o fundo que o investidor de fato investiu, no nosso exemplo acima, o Fundo A. Os proventos desta cobrança serão utilizados para cobrir os custos deste fundo.
Se este Fundo A adquirir das cotas de outro fundo de investimento da mesma gestora (no nosso exemplo o Fundo B), deverá ser adicionado o custo da taxa de administração do Fundo B. Sendo assim, a taxa de administração efetiva do Fundo A será: Taxa do Fundo A + % Aplicado no Fundo B x Taxa do Fundo B.
Já a taxa de administração máxima, será a taxa efetiva considerando que todos os recursos do Fundo A sejam investidos no Fundo B, ou seja, será a taxa de administração do Fundo A somada a taxa de administração do Fundo B.
Ficou confuso? Vamos exemplificar.
Digamos que o Fundo A seja o fundo principal do investidor e tenha taxa de administração de 0,5% ao ano.
O Fundo A investe em cotas do Fundo B. Já o Fundo B tem taxa de administração de 1% ao ano.
Ambos os fundos são geridos pela mesma gestora, a Gestora X.
Agora vamos dizer que o Fundo A invista 50% do seu patrimônio no Fundo B. Portanto em 100% do patrimônio do Fundo A será cobrada a taxa de 0,5% (taxa do Fundo A) e em 50% do patrimônio do Fundo A (a parte aplicada no Fundo B) será cobrada a taxa de administração do Fundo B, 1%. Perfazendo uma taxa de administração efetiva de 100% x 0,5% + 50% x 1% = 1%
Portanto as taxas de administração apresentadas para o Fundo A serão:
- Taxa de Administração Mínima: 0,5%
- Taxa de Administração Máxima: 1,5%
- Taxa de Administração Efetiva: 1%
Note que a taxa de administração máxima paga pelo Fundo A ocorre quando o Fundo A aplica 100% do seu patrimônio no Fundo B, ou seja, 100% x 0,5% (Parcela adm do Fundo A) + 100% x1% (Parcela adm do Fundo B) = 1,5%.
As informações referentes as taxas de administração poderão ser encontradas na lâmina do fundo ou no próprio regulamento.
O que é a Taxa de Performance de Fundos de Investimentos?
Taxa de performance é uma taxa adicional a ser paga ao gestor para o caso de ele ter um desempenho acima do índice benchmark, ou índice de referência. Esta taxa, diferentemente da taxa de administração, é uma remuneração de incentivo ao gestor, ou seja, se o gestor conseguir performar acima do que prometeu ao investidor, ele receberá uma bonificação.
Como funciona a cobrança da Taxa de Performance?
Para que o fundo possa cobrar a taxa de performance é necessário que esteja definido o índice de referência a ser comparado com o retorno do fundo. Este índice pode ser qualquer índice, desde que verificável, replicável, calculado com independência e compatível com a política de investimento do fundo.
A cobrança da taxa de performance se dá por um percentual a ser aplicado sobre a diferença entre o rendimento líquido do fundo e o rendimento do índice de referência.
A sua forma de incidência é definida no regulamento do fundo, sendo no mínimo semestralmente e provisionada diariamente.
Veja um exemplo de cálculo no passo a passo abaixo:
No exemplo abaixo consideramos um fundo de investimento que incide taxa de performance de 20%, referenciado ao que exceder determinado índice.
Como você poderá observar a linha azul é a performance do fundo caso não incida nenhuma taxa de performance. Veja que o fundo teria um rendimento de 125,3% no período de 60 meses. Já a linha vermelha pontilhada é o resultado do Índice, que teve um rendimento de 83,4% no mesmo período.
Agora a linha rosa é o resultado do fundo com o impacto da taxa de perfomance, portanto, reduzindo os ganhos acumulados do fundo para 117,2%.
Agora vamos as contas:
Repare que:
- (125,3% – 117,2%) = 8,1%. Esta é a taxa de performance de fato cobrada do fundo.
- (125,3%-83,4%) x 20% = 8,4%. Esta é a taxa de performance que deveria ser cobrada do fundo.
Não está batendo!
Isto ocorre pois existem alguma peculiaridades e situações que podem, ou não, acabar beneficiando o investidor, como no caso acima, onde o investidor pagou 8,1% de performance quando deveria pagar 8,4%.
Vamos detalhar na sequência.
Peculiaridades da Taxa de Performance
- Linha d´água
A linha d´água é a primeira e mais importante característica da taxa de performance. Ela garante que o investidor não seja cobrado em duplicidade pelo mesmo retorno.
Vamos voltar ao exemplo do infográfico acima. Imagine que no 1o semestre, o fundo valorize 20% e o índice de referência 10%. O resultado líquido do fundo, descontada a administração, foi de R$19,00/cota e o fundo deverá pagar taxa de performance sobre o rendimento acima do índice. O valor de R$ 119,00/Cota corresponde a maior cota que sofreu a incidência de taxa de performance desde a concepção do fundo. Portanto, esta é a nova linha d´água do fundo.
Se no 2o semestre a cota líquida cai para R$ 100,00 e o índice de referência também cair para R$100,00, não teremos incidência de taxa de performance.
Agora imagine que no 3o semestre ocorra exatamente o mesmo que no 1o semestre, ou seja, o fundo valorize 20% e o índice de referência 10%. Neste caso, a cota líquida do fundo voltaria a R$119,00, e poderia ser cobrada a taxa de performance nos R$ 9,00/cota que o fundo superou o índice. Porém, como proteção ao investidor, isto não é permitido, pois o fundo só poderá voltar a cobrar taxa de performance quando a cota do fundo ultrapassar o valor da linha d´água.
- Retorno negativo do fundo
Agora vamos falar do caso onde o fundo tem retorno negativo, porém menos negativo que o índice de referência. Neste caso está vedada a cobrança de taxa de performance, mesmo que o fundo tenha desempenhado melhor do que o índice de referência.
- Retorno negativo do índice de referência
Outra situação diz respeito ao caso onde o fundo teve um resultado positivo e o índice de referência um resultado negativo. Neste caso, para o cálculo de comparação entre o rendimento do fundo e o índice de referência, a norma estabelece que deve-se usar o maior entre a cota base atualizada e a cota base. Isto protege o investidor.
Por exemplo, vamos dizer que a cota de início (cota base) do semestre seja de R$100/cota. Agora imagine que ao final do semestre o fundo valorizou 10% (R$110/cota) e o índice caiu 10% (R$ 90/cota). Neste caso o fundo teve uma performance 20% melhor do que o índice, porém, só poderá cobrar performance sobre 10%, pois será avaliado a diferença entre 110 e o maior entre 100 (Cota base) e 90 (Índice).
- O caminho importa
Conforme aprendemos acima, a taxa de performance é apurada por período e incide caso o retorno do fundo seja superior ao retorno do índice de referência. Porém imagine 04 períodos em 02 cenários que representamos abaixo. Considere a taxa de performance de 20%:
Note que o retorno total do fundo e do índice nos 02 cenários é igual a 20% (linha TOTAL). Porém, no Cenário 01, o fundo performou todo o retorno no primeiro período e pagou a performance de 3%. No cenário 02, o fundo performou junto com o índice, e não foi gerada nenhuma taxa de performance.
Portanto, o retorno do investidor no cenário 01 será 3% menor do que no cenário 02, ilustrando que o caminho importa.
Como a taxa de performance não é devolvida no caso do fundo performar abaixo do índice, gostamos de afirmar que é um incentivo perverso, pois o gestor pode correr mais risco do que deveria, dado que se performar acima do índice será bonificado, porém se ficar para trás, não precisará reembolsar o investidor.
Como este conhecimento pode me ajudar na escolha de fundos?
Como foi demonstrado, as taxas de administração e performance consomem parte dos seus rendimentos em fundos de investimento. Por isso as taxas são um dos fatores que devem ser levados em consideração na escolha de um fundo. É importante entende-las e saber avaliar se elas estão de acordo com as características do fundo, evitando pagar preços altos por falta de conhecimento.
Primeiramente o investidor deverá avaliar em qual tipo de fundo está investindo, se é ativo ou passivo, para assim, poder concluir se as taxas de administração e performance estão condizentes.
Com relação a taxa de administração, para poder decidir e avaliar este custo corretamente, é importante entender o que esta sendo proposto pelo fundo. Se o gestor tiver uma atuação ativa, ele demandará uma equipe maior, estruturada e sofisticada, para poder desenvolver estratégias de investimento lucrativas que superem determinado Índice de Referência, portanto, a taxa de administração deverá ser maior entre 1% a 2%.
Caso o gestor tenha uma atuação passiva, a estrutura deverá ser menor e mais eficiente, buscando replicar determinado índice (CDI, IBOVESPA, etc), e não superá-lo. Uma taxa de 0% a 1% pode ser aceitável.
A taxa de performance é um pouco mais complicada e como mencionado acima, é uma taxa de incentivo para o gestor ativo. Valores aceitáveis de taxa de performance são entre 0% a 20%, dependendo do tipo de estratégia de investimento que o fundo propõe. Recentemente com a democratização da informação e integração dos mercados, as taxas de performance vêm sendo reduzidas.
Uma técnica que pode ser utilizada, mas que precisa que o investidor tenha um maior aprofundamento no assunto (pois o cálculo da taxa de performance pode ser um pouco mais complexo do que o exemplo deste post), é dar preferência para investir em fundos de investimento que estão abaixo da linha d´agua, ou seja que já pagaram performance para seus investidores.
Para saber qual é o último valor da cota em que já está contabilizada a taxa de performance é muito fácil: veja o histórico do fundo e pegue o maior valor da cota a cada final de semestre.
As melhores oportunidades aparecem nas crises. Se você tem fundos passivos na carteira, que não cobram taxas de performance, troque para fundos ativos nos momentos de baixa e se beneficie das taxas de performance, mas lembre-se, este é apenas um fator na decisão de escolha dos fundos.
Não se esqueça de ler o artigo que detalha todos os tipos de fundo de investimento existentes no mercado. Ele também vai te ajudar na escolha da melhor opção para a sua carteira.
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